[Assim não vais longe, ó maldito. Então não sabes como é? Dizer coisas inteligentes, homem! Hoje e sempre! Isto não é só falar para gente importante, não; urge falar de gente importante. Mortos, sobretudo, que esses já não nos fazem mal e faz a gente grande figura. Eu cá conheço (ou já ouvi falar) de fulano e beltrano, que não sou um qualquer. Ora, ora! Eu? Eu sei muito e se há coisa que bem aprendi é que o nariz serve para olhar para o céu! Ai não! "Muito pensei eu acerca disso com que o senhor acaba de se babar. Ainda me lembro dos tempos idos em que lia aquele e aqueloutro. Belos tempos, belos tempos." E pronto, já está. Com efeito, o feito: a semente está pronta a germinar em admiração alheia, semente que será a bela flor da imaginação popular: sim, senhor, é douto, se calhar até doutor, este rapazola. Assim é que deve ser, ó maldito! Aprende. Olha, começa já hoje: aproveita! Aproveita-te! Pega já aí no Marat, esse tal Jean-Paul, o ilustre antepassado do "O Amigo do Povo", ou do polvo ou lá que raio é. Sim, pega nele – ao colo! E, carregando-o, conta: «Marat, esse símbolo, esse grande revolucionário! Conheço a sua luta desde as alturas da medicina até se ter metido com o fogo, e pimba!, acabar queimadinho. E sabem Vossas Excelências quem o matou? Ah, pois: essa Charlotte (olhe do que me fui lembrar, Linda Lady da qual, ansioso, aguardo resposta...) Mas esta outra doce "Charlota", a assassina, era da não menos influente prosápia dos Corday d’Amont, família a quem daqui saúdo com vénias até esmagar os tomates. Ela que naquele sangrento ano de 1793 (ou outro, não interessa – andará perto com certeza), apunhalou o nosso herói quando este tomava banho – foi uma limpeza, foi que foi. Só me escapa se ela o fez pela frente ou se foi pela retaguada que consumou o acto, o que constitui uma tremenda falha nos meus conhecimentos e compreensão de todo este episódio. Certo é que aquilo cheirou mal: houve ali um sujo rabo de traição, ou então estou a supor, lançando para o mundo o podre fruto das minhas desavergonhadas efabulações.» História, maldito! Ah, maldito!, que nada sabes. Arde nessa cama da estupidez! Arde, desgraçado! Arde! Arde! Calma. Deixa-o estar, ó santinho. O gajo está a passar-se, não vês, rabudo dum raio? Olha a linguagem: Esse linguajar não é próprio para a tua cor nem condiz com essas asas. Assim é que é, maldito: É preciso queimar. Isto já lhe passa. Não o conheces, santinho? Mas há que o acalmar. Qual é o meu papel no meio disto tudo, afinal? Cala-te, labrego. Olha, vês? Infelizmente já está a voltar à calma que tu queres. Ei-lo: (1)Ah, quero lá saber do Marat e da Revolução Francesa! Vou mas é responder ali ao Augusto de Respeitável Dragão e Mais Não Sei Nem Quero Saber (raios, que nome!) Responder-lhe, sim, que tenho muitos defeitos, mas mal agradecido é que não sou! Educação! Para além de que se é a fama que ambiciono, tenho que seguir a cartilha: nunca perder contactos, e agradecer de forma lúcida. Nada de precipitações. Tudo controladinho. Distante (mas não muito), frio (mas não gelado) e firme (quanto baste.) Qualquer coisa do género:]
O (Mal)dito, blogue que mais segundo menos segundo conquistará a justa fama que reclama, agradece a referência feita no Dragoscópio, um blogue bastante razoável, bom ou óptimo, segundo a opinião de cada qual. As Excelências que deliberem.
(1) N.T. (nota do tradutor) – O "autor" evidencia algumas perturbações, como mais tarde se verificará, nomeadamente da página 36 em diante. Constantemente assaltado por delírios e contradições (na absurda e infrutífera tentativa de se colar aos génios de outros tempos), recorre, não raras vezes, ainda que de forma patética, às figuras do "bem" e do "mal", nesta edição respectivamente pintadas a azul e vermelho.

sexta-feira, janeiro 20, 2006 by Ah, maldito!