Já lá diz o povo, Excelência: «Não há duas sem três.» Pois cá estou, conduzido por essa boca da massa. Bem podia estar caladinho. Se calhar, quem sabe?, se não seria o melhor que fazia… mas, olhe, dá-me para isto: uma estúpida obstinação... Caturrice... E estou de novo a lançar-lhe a minha voz porque a honra a isso me obriga. E também porque se a Excelência me referencia, quem à fama aspira, não pode (ou não deve) fechar-se em copas. Nada disso: há que continuar a lamber a mão de quem amavelmente nos acena. Não pensem as Excelências que eu sou descuidado, que não estudo, de vez em quando, a cartilha. Reparo, porém, que as Excelências têm (quase sempre) uma palavrinha mais em relação a este espaço, não se limitando à referência sem sal. Isso é bom, dizem os entendidos. É preciso que falem de nós, não é? Não interessa se bem ou mal, o importante é que o nosso nome vá flutuando, viajando por essas ondas, até chegar, num solarengo dia, ao destino pretendido. Causo impressão, é o que daqui concluo. Talvez esteja a entrar em delírio e enlaçado por um tímido mas monstruoso fio de soberba, caso muito vulgar em quem de repente se vê a pairar no céu, ao lado de outras estrelas. É um problema: De repente um indivíduo vê-se no alto, esquecido da sua natureza, da pequenez de humano que um dia nasceu humilde e indefeso, e que, pela celebridade corrompido, subiu até ao cume da prepotência e aí instalado já se julga capaz de liderar os assuntos do Olimpo. É um perigo subir a tão alto píncaro. Imagine-se este cenário: na escalada o pé faltar-lhe, e zás!, cair no abismo!?
De súbito ciente desse escolho, escolho outro caminho, digamos um voo raso, bicando e bicando-me, sempre que haja a maldita tendência para mais alto subir. É que a fama (começo eu a refilar com os meus gastos botões) pode ser bicho com falsas asas que o sol facilmente consome. E timidamente sobrevoando a província blogo-esférica vou matutando: Alado, alado, só o espírito. Esse, sim, que voe à vontade, Excelências. Que faça das suas, que entre e saia de abismos. E nu, imagine-se, nu, sem uma única jóia que adorne a sua sã natureza... Está-se mesmo a ver: ando com um grão na asa, salvo seja, e quase, quase a arriscar outros voos, respirar outros ares… Mas, como ainda não decidi a partida em definitivo, vou dar mais uma voltinha por aí, reflectindo… e de caminho, agradecendo às Excelências, mereçam elas ou não…
(Diabo? Diabo! Sim… O gajo está outra vez a passar-se. Que se passe!… E de vez! Lá, está no seu melhor mundo.)

terça-feira, janeiro 31, 2006 by Ah, maldito!